
Quem Espera por Sapatos de Defunto Morre Descalço
Filme opaco, secreto como um búzio. Parafraseando Rimbaud, é necessário dizer que le vrai film est ailleurs. O que se pretende filmar não é tanto o filme mas o seu reflexo. Obscuramente, como num espelho. É, portanto, face a um espelho que Mónica, através da palavra reflectida, desmascara o seu jogo ao desmascarar o de Lívio e, pela palavra, ela liberta-se. Aqui, a palavra é opção moral, consciência nua, assunção da verdade. O olhar de Mónica (ou do seu duplo) em direcção a um Lívio ausente é expulsado da imagem (o verdadeiro filme está off- off, para lá da ilusão do ecrã) e insere-se num movimento de fascínio e de repulsa que organiza continuamente o seu debate interior. A descoberta do seu olhar? A descoberta do próprio filme, of corse. Filme transparente, aberto como um pássaro a voar. Ensaiemos uma outra maneira de auscultar o movimento vago e misterioso. De que se trata, no fim de contas?
- Ano: 1970
- País: Portugal
- Gênero: Drama
- Estúdio: Fundação Calouste Gulbenkian
- Palavra-chave:
- Diretor: João César Monteiro
- Fundida: Luís Miguel Cintra, Antónia Brandão, Carlos Ferreiro, Carlos Porto, Elsa Figueiredo, Helena Gusmão